Quando o básico vira luxo: a mudança no horário da coleta e o impacto (in)esperado na rotina da cidade
Se tem algo que deveria ser simples e eficiente — e, convenhamos, invisível — é a coleta de lixo. Mas em muitas cidades, o básico virou motivo de dor de cabeça, discussão política e até termômetro de aprovação de governo. E em Itapetinga, a recente mudança no horário da coleta, que antes era feita à noite e passou a acontecer pela manhã em alguns bairros, escancarou um debate maior: o da responsabilidade compartilhada — entre quem governa e quem joga o lixo na rua.
A decisão da Prefeitura de alterar o horário da coleta não foi total: na manhã desta quarta-feira, 24 de abril, o secretário de Infraestrutura, Billy Graham, afirmou em entrevista a uma rádio local que a medida trata-se de uma experiência temporária, uma espécie de fase de teste para avaliar se a mudança funcionaria na prática. Segundo ele, a motivação principal é o custo-benefício. Os serviços pela manhã poderiam representar uma economia significativa para os cofres públicos, especialmente com a redução de gastos com os honorários extras pagos aos garis por trabalharem em período noturno.
No entanto, a mudança gerou ruído — e dos grandes. A informação de que a alteração seria apenas para determinados bairros não chegou com clareza à população. Resultado? Confusão, reclamações e calçadas tomadas por sacos de lixo em horários errados.
Mas o problema é só o horário?
Claro que não. O lixo é só o reflexo de um comportamento coletivo. Não adianta a prefeitura alterar o cronograma se parte da população ainda insiste em colocar o lixo fora do novo horário. Resultado: sujeira espalhada, mau cheiro e a falsa impressão de que “a coleta não passa mais”. Passa sim. Só que agora, quem não se adapta, atrapalha.
Política pública ou improviso?
A pergunta que fica é: houve realmente planejamento? Ou estamos diante de mais uma medida apressada, tomada entre quatro paredes e comunicada de forma rasa? Em tempos de redes sociais, onde a informação circula em segundos, não dá pra confiar que “alguém vai avisar”. Comunicação institucional precisa ser clara, objetiva e chegar onde o povo está.

Enquanto isso, a cidade assiste…
Enquanto muitos cidadãos se esforçam para se adaptar, há quem continue achando que limpeza urbana é “obrigação só da prefeitura”. Mas vamos ser claros: cidade limpa é dever coletivo. E mais: se a população cobra uma cidade mais limpa, tem que fazer sua parte.
A nova coleta matinal não é o problema. O problema é a falta de cultura coletiva de cuidado com o espaço público. E nisso, o poder público tem papel essencial: educar, informar, cobrar. Mas precisa também dar o exemplo. Não adianta fazer campanha se os próprios prédios públicos têm entornos sujos ou se os caminhões espalham mais do que recolhem.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:
Além da mudança de horário, outro ponto que merece atenção urgente da Prefeitura é o acúmulo de lixo nos pontos de coleta. É comum ver sacos amontoados nas calçadas, aguardando os caminhões, e o pior: soltando líquidos — o chamado chorume — que escorrem pelas ruas, gerando mau cheiro, atraindo insetos e degradando a imagem da cidade. Se o município quer de fato melhorar a logística da coleta, é essencial investir em estruturas adequadas, como contêineres de apoio, onde os “coelhinhos” — como são chamados os coletores — possam reunir o lixo de forma segura e higiênica antes do recolhimento. O que não dá é pra continuar empurrando a sujeira com a barriga — e deixando a cidade cheirar mal por falta de planejamento.

Conclusão: a política está no lixo — ou na forma como lidamos com ele.
A mudança do horário da coleta é um detalhe que revela muito. Revela como o governo comunica (ou não) suas ações, como a população responde (ou ignora), e como algo tão simples pode se transformar num símbolo maior de responsabilidade, cidadania e até disputa de narrativas.
E se tem uma coisa que a política ensina, é que até o lixo pode virar pauta de embate, de crítica — ou de transformação. Mas pra isso, é preciso jogar limpo. Com planejamento. Com diálogo. E com respeito à inteligência do povo.
G4TVBahia
Imagens: Clewton Dias / Google