UTI com likes, stories, intimação e transmissões ao vivo: bem-vindo ao reality show da política doente

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No Brasil, a sigla UTI é sinônimo de gravidade. Unidade de Terapia Intensiva. Um espaço onde a vida e a morte disputam cada batida do coração. Onde pacientes, por norma médica, precisam de repouso absoluto, monitoramento contínuo e isolamento controlado. Onde o silêncio é parte do tratamento, e as visitas — quando permitidas — são curtas, com hora marcada e extremamente restritas.

Mas, em certos casos, parece que a UTI muda de função.

De repente, um paciente “em estado delicado” aparece sorrindo para selfies, gravando vídeos, recebendo visitas em série, dando entrevistas, despachando com advogados e — pasmem — até sendo formalmente intimado pela PF em pleno leito hospitalar. Tudo isso diante das câmeras, claro.

A pergunta que ecoa nos corredores da política e da medicina é simples e direta: isso é uma UTI de verdade ou um camarim de show político?

Enquanto milhares de brasileiros enfrentam o drama real de uma internação crítica, privados de contato com familiares, sem acesso à dignidade plena, alguns personagens da política nacional parecem transformar a UTI em palco. O que era pra ser um espaço de cuidado virou cenário para a construção de narrativa.

A selfie no soro: símbolo de um país doente?

O ex-presidente Jair Bolsonaro — que já coleciona uma galeria de internações com celulares na mão e olhares calculados — volta ao centro do debate. Se está mesmo em uma Unidade de Terapia Intensiva, por que age como se estivesse em um camarote VIP?

A legislação brasileira, os protocolos hospitalares e a ética médica são claros: quem está em UTI precisa repousar. O ambiente não permite aglomerações, muito menos articulações políticas, vídeos estratégicos ou carreatas de visita.

UTI não é sala VIP de aeroporto, muito menos gabinete informal.

Se pode dar entrevista, fazer selfie, receber pastor, advogado, influencer e oficial de justiça, talvez não seja a UTI que está em questão. Talvez seja o uso político da própria condição clínica.

A Justiça bate à porta da UTI?

Receber uma intimação judicial dentro de uma UTI levanta outro debate. Pode? Deve? Por que, afinal, essa pressa toda para entregar um papel a quem, supostamente, está entre fios, tubos e monitores?

Ou será que a tal UTI é, na prática, só mais um escudo para se blindar de audiências, depoimentos e verdades incômodas?

A inteligência do povo está sendo testada

Enquanto isso, o brasileiro comum — que luta por vaga, enfrenta filas do SUS e reza pra não adoecer — assiste perplexo à espetacularização da enfermidade. E começa a se perguntar: a doença é real ou é o teatro que é bem ensaiado?

Porque, se a cada crise de saúde tiver coletiva de imprensa, vídeo com trilha triste, visita de aliados e narrativa pronta, a gente vai precisar de uma nova sigla: UTP — Unidade de Terapia Política.

G4TVBahia

Imagem: Google

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